Um estudo conduzido pela coordenadora da Residência em Periodontia no Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA), professora Sabrina Carvalho Gomes, confirmou a presença do coronavírus no biofilme dental. O resultado, conforme a pesquisadora, traz novas perspectivas para o entendimento sobre as várias portas de entrada do vírus no corpo humano.
O biofilme, conhecido como placa bacteriana, é composto não só de bactérias, mas também de vírus e fungos. Foi a partir deste conceito que surgiu a hipótese que originou a investigação. Em uma analogia, pode-se pensar em uma caixa d’água (dente) com lodo em suas suas bordas (biofilme). Para realizar a limpeza, não adianta só jogar produto químico, tem que esfregar as paredes. “Ainda é necessário avançar nos estudos, mas, de imediato, há um alerta de que cuidados bucais possam ser necessários para a contenção do contágio”, explica a pesquisadora.
Os achados inéditos trazem consigo novas perguntas. “Ainda não sabemos se o vírus sobrevive nesse microbioma, se pode de deslocar para o sistema respiratório ou alcançar a corrente sanguínea através das células da gengiva. Temos, agora, a responsabilidade de buscar mais respostas. Tudo o que puder ser feito pela ciência, com o objetivo de evitar possíveis mecanismos que levem a uma reinfecção, é importante”, complementa a professora Sabrina, que tem mais um estudo em andamento no HCPA.
Na pesquisa já realizada, foram analisadas amostras de 70 pessoas com diagnóstico positivo para covid-19 no Serviço de Medicina Ocupacional do HCPA. Em 19% destes casos foi identificado o coronavírus também no biofilme dental, exatamente nos participantes que tinham maior carga viral nas amostras de oro e nasofaringe.
O artigo Dental biofilm of syntmptomatic COVID-19 patients harbors SARS-CoV-2 será publicado em breve no Journal of Clinical Periodontology e é de autoria de Sabrina Carvalho Gomes, Sabrina Fachin, Juliane Gonçalves da Fonseca, Patrícia Daniela Melchiors Angst, Marcelo Lazzaron Lamers, Ilma Simoni Brum da Silva e Luciana Neves Nunes.